Em Lisboa, na apresentação do Boletim Económico de junho, que poderá ter sido a última de Mário Centeno ao leme do BdP, já que o seu mandato termina em julho, o ex-ministro das Finanças deixou um conjunto de alertas para a economia, depois de ter revisto em baixa as previsões para o crescimento deste ano.
A previsão é agora de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,6% em 2025, o que compara com a estimativa de 2,3% inscrita no boletim de março e a projeção de 2,4% que o Governo fixou no relatório de progresso entregue a Bruxelas.
Centeno avisou que mesmo esta previsão de crescimento de 1,6% "tem um risco descendente significativo", sendo que para atingir este valor são necessários crescimentos em cadeia "bastante fortes no resto do ano", após uma contração de 0,5% no primeiro trimestre.
O governador destacou também a importância dos imigrantes para a economia, defendendo que "sem imigração, a economia portuguesa não cresce".
Para Centeno, a "sustentabilidade da trajetória de crescimento está assente na possibilidade de prolongar o ciclo de imigração", que deu um contributo "inestimável" para a sociedade, pelo que "parar o ciclo de imigração é parar o ciclo de crescimento económico em Portugal".
Isto numa altura em que existem alguns sinais de alerta no mercado de trabalho, tendo-se verificado "seis meses consecutivos de destruição líquida de postos de trabalho".
Os avisos do governador recaíram ainda sobre as contas públicas, com críticas sobre a política expansionista e o aumento da despesa líquida, que poderá colocar em causa o cumprimento das regras orçamentais europeias.
Há "risco de incumprimento das regras europeias no horizonte", alertou, com a despesa líquida a subir 5,4% em 2025 após ter crescido uns "enormes" 11,7% em 2024.
Centeno itiu que os números dependem da execução orçamental, mas salientou que, com a informação disponível, é visível uma "divergência ao longo dos anos face aos objetivos que estão estabelecidos e assumidos com a Comissão Europeia".
O governador destacou ainda que a orientação da politica orçamental tem sido expansionista, o que é um "fator de preocupação", nomeadamente tendo em conta que no saldo das istrações Públicas é a Segurança Social que tem dado um impulso ao excedente, mas esses valores "são para pagar responsabilidades futuras que estão a ser assumidas hoje".
Centeno defendeu que é necessária estabilidade financeira, sendo que Portugal é "recordista na redução da dívida pública e privada na Europa, o que deu credibilidade ao país", pelo que "colocar em causa estes indicadores é colocar em causa sustentabilidade do crescimento económico".
"A boa posição que hoje temos, em termos destes famosos desequilíbrios macroeconómicos que nos trouxeram sarilhos no ado, mede-se por exemplo na posição de investimento internacional, que continua a melhorar", destacou, alertando: "Pôr em causa esta trajetória pode trazer-nos palavras que, felizmente, nos últimos anos temos conseguido evitar".
Neste boletim é também deixado o aviso de que "a elevada dívida pública permanece uma vulnerabilidade", pelo que "Portugal terá de preservar uma trajetória de redução sustentada do endividamento, tendo presente os desafios estruturais que continuarão a marcar o futuro próximo: investimento público, especialmente na área da transição climática, digital e da defesa e as consequências orçamentais associadas ao envelhecimento da população".
As previsões do BdP apontam para um crescimento económico de 1,6% este ano, 2,2% em 2026 e 1,7% em 2027, bem como para défices orçamentais de 0,1%, 1,3% e 0,9% do PIB em 2025, 2026 e 2027.
Já o rácio da dívida pública deverá ar de 94,9% em 2024 para 85,8% em 2027.
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