O projeto de resolução, apresentado à Assembleia pela Espanha e copatrocinado por dezenas de Estados-membros da ONU, incluindo Portugal, obteve 149 votos a favor, 12 contra e 19 abstenções dos 193 Estados-membros da ONU.
Votaram contra este texto países como Israel, Estados Unidos, Argentina ou Paraguai e, entre os países que se abstiveram, estão Índia, Timor-Leste ou Albânia.
Intitulada "Ações ilegais israelitas em Jerusalém Oriental ocupada e no resto do Território Palestino Ocupado", a resolução condena a utilização da fome contra civis "como método de guerra" e a "negação ilegal de o humanitário".
Salienta que Israel, como potência ocupante, é obrigada pelo direito internacional a garantir que a ajuda humanitária chega a toda a população necessitada e exige a entrada plena, rápida, segura e desimpedida de ajuda em grande escala ao enclave.
O texto vai mais além e apela a todos os Estados-membros para que, individual e coletivamente, tomem todas as medidas necessárias para garantir o cumprimento das obrigações israelitas, frisando a necessidade de Telavive ser responsabilizado.
O documento reforça igualmente a exigência de libertação imediata, digna e incondicional de todos os reféns detidos pelo grupo extremista Hamas.
Embora reconhecendo que esta resolução tem a "linguagem mais forte até à data", o embaixador palestiniano junto da ONU declarou que Israel continua a "desrespeitar e a desprezar flagrantemente o direito internacional e as resoluções da ONU", apelando à comunidade internacional que adote ações resolutas contra Telavive.
"Isto precisa de ser feito agora", frisou.
Riyad Mansour instou ao uso de "ferramentas políticas, diplomáticas, legais e económicas para responsabilizar os perpetradores destes crimes e atrocidades contra o povo palestiniano".
"Nenhuma arma, nenhum dinheiro, nenhum comércio [a ser usado] para oprimir os palestinianos", reforçou.
Por outro lado, a embaixadora interina norte-americana afirmou que a resolução "não faz nada para libertar os reféns, melhorar a vida dos civis em Gaza ou aproximar-nos de um cessar-fogo, além de ser mais uma ação performativa que corrói a credibilidade" da ONU.
"Este projeto envia uma mensagem inaceitável ao Hamas e a outros grupos terroristas apoiados pelo Irão. E a mensagem é que será recompensado por fazer reféns, desviar ajuda e lançar ataques a partir de áreas civis", acrescentou Dorothy Shea ainda antes da votação, instando diretamente os restantes países a votar contra.
A norte-americana insistiu ainda que Israel está a ser "falsamente acusado" de utilizar a fome como método de guerra e "insensivelmente" forçado a terminar o seu bloqueio a Gaza.
Também antes da votação, Israel criticou a resolução, afirmando que o texto não reflete a realidade no terreno e que apenas serve para dar força ao Hamas.
"É uma farsa, uma falha moral, um golpe político", denunciou o embaixador israelita na ONU, Danny Danon.
A resolução não é vinculativa, mas serve para avaliar o apoio que Israel tem nas Nações Unidas, além do seu aliado incondicional, os Estados Unidos, que na semana ada voltou a vetar no Conselho de Segurança uma resolução que exigia um cessar-fogo em Gaza e o levantamento de todas as restrições à entrada de ajuda humanitária no enclave.
A votação ocorre num momento em que o número de mortos na Faixa de Gaza ultraou 55 mil e na véspera da Conferência Internacional para a Solução de Dois Estados - Israelita e Palestiniano -, a decorrer na próxima semana na ONU, em Nova Iorque, e na qual o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, participará.
O reconhecimento do Estado palestiniano e o futuro do movimento extremista Hamas em Gaza serão os principais eixos da Conferência, copresidida pela França e pela Arábia Saudita.
A votação de hoje ocorre também num momento em que algumas potências ocidentais, aliadas tradicionais de Israel, começam a demonstrar o seu descontentamento com os entraves de Telavive à entrega de ajuda a Gaza, como é o caso do Reino Unido, Canadá e Austrália.
[Notícia atualizada às 23h02]
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