"O Governo vai ter de retificar isso, nem sequer questiono o contrário, nem sequer me a pela cabeça que vá haver algum debate sobre essa matéria, é tão evidente que é preciso retificar que não me parece que haja algum debate sobre isso", afirmou Paulo Raimundo em declarações aos jornalistas na sede nacional do Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV), em Lisboa, após uma reunião com a direção daquele partido.
O secretário-geral do P referia-se ao facto de, segundo o jornal Expresso, o grupo de extrema-direita que, esta terça-feira, será responsável pela agressão a um ator da companhia A Barraca, em Lisboa, ter sido retirado da versão final do RASI de 2024, o que levou o BE a pedir que o plenário da Assembleia da República discuta esse relatório.
Paulo Raimundo salientou que não é apenas o grupo alegadamente responsável por esta agressão que foi retirado do RASI, mas todos os movimentos de extrema-direita, reforçando que "o Governo vai ter de retificar isso".
Sobre a agressão ao ator Adérito Lopes, Paulo Raimundo condenou "de forma clara e inequívoca" o que considerou ser uma "ação cobarde" e um ataque não só ao ator, mas também "à cultura, à liberdade, à democracia".
"É uma dinâmica de ódio e de violência completamente incompatível com a nossa Constituição e, portanto, também aqui nós dizemos que é preciso que a Constituição se cumpra e não pode haver complacências com estas atitudes", defendeu.
Paulo Raimundo frisou que, "infelizmente, este não é um caso único e isolado", mas insere-se num contexto de aumento do "discurso do ódio e da violência" que, depois, resulta em incidentes como o de terça-feira, "de brutal agressividade".
Questionado se concorda com o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, que defendeu que incidentes como o de terça-feira mostram a necessidade de reforçar o policiamento em Lisboa, Paulo Raimundo respondeu: "O que nós precisamos é de mais Constituição".
"De mais salários, mais pensões, mais SNS, menos pobreza no nosso país. Temos dois milhões de pobres no nosso país, 300 mil crianças. O que nós precisamos é de retirar pretextos -- se é que existem, que não existem -- a este discurso do ódio e a este discurso da violência", sustentou.
O secretário-geral do P defendeu ainda que é preciso "cumprir a Constituição no que diz respeito a criminalizar o discurso do ódio e discursos racistas e xenófobos".
"Enquanto nós não fizermos isto, enquanto acharmos que este discurso, estas práticas, se combatem com mais segurança, o que estamos a dar é mais força ainda a esta gente", considerou.
A dirigente do PEV Heloísa Apolónia, em declarações aos jornalistas, também condenou veementemente "os discursos de ódio, de intolerância, de racismo e de xenofobia" e as atitudes que daí decorrem, manifestando solidariedade com a companhia de teatro A Barraca.
Sobre a reunião entre o P e o PEV, Paulo Raimundo disse haver uma "grande sintonia de opiniões" perante os desafios atuais, numa altura em que a direita "está a ganhar músculo", e assegurou que o seu partido vai manter o compromisso, no âmbito da CDU, com o partido ecologista nas próximas eleições autárquicas, para tentar manter e conquistar mais do que os atuais 19 municípios que a coligação detém.
Já Heloísa Apolónia afirmou que, apesar de o PEV não ter conseguido eleger deputados nestas legislativas, vai manter as suas prioridades -- designadamente a defesa da biodiversidade, o combate às alterações climáticas ou o pacifismo -- e defendê-las no "o direto" com a população, incluindo nas autárquicas.
Leia Também: "Temos a obrigação de fazer cumprir a Constituição"