'Hotel Amor' é mais uma aposta do cinema português que tem estreia marcada para o dia 19 de junho. O filme de Hermano Moreira a-se no Hotel Roma, em Lisboa, e tem Jessica Athayde no papel principal, dando vida a Catarina, a gerente da unidade hoteleira.
Esta longa-metragem foi filmada numa sequência contínua e com o hotel em funcionamento, o que levou a várias peripécias, como partilhou Hermano Moreira durante a entrevista ao Notícias ao Minuto.
A viver em Portugal há já alguns anos, o realizador brasileiro destacou os profissionais com quem se tem cruzado ao longo destes anos, sem deixar de lado, diz, "o privilégio de trabalhar com tantos atores bons".
Hermano Moreira apelou também ao apoio ao cinema português que, destaca, "merece e deve ter mais público", e espera que este 'Hotel Amor' "desperte a curiosidade de todos".
Este é um filme de comédia que, na verdade, tem umas nuances de romance e também de drama 'disfarçado' (com o ado da personagem principal). Mas 'ao fim ao cabo', é ainda uma mensagem/ensinamento para se viver a vida e ser feliz. Como surgiu a ideia de juntar tudo isto nesta longa-metragem? Como é que foi o processo até chegar à concretização deste filme?
Acho muito preciso o comentário, é isso mesmo, a por todas essas nuances o filme. Tudo começou quando convidei o Bruno Bloch para desenvolvermos este guião. Disse-lhe que queria fazer um filme em sequência, todo num hotel, com uma protagonista feminina e que abordasse o 'workaholic'. Hoje em dia, na Europa menos, mas no Brasil e nos EUA é muito legal, 'cool', ser o 'workaholic'. Acho que ser 'workaholic' é um defeito e não uma qualidade. Mas essa é a minha visão. Seguimos esse princípio. Ter uma mulher com os seus 40 anos que abandonou a vida pessoal e se dedicou ao trabalho. Fomos conseguindo compor com a história de vida da Catarina e com alguns personagens, ando essa mensagem.
Primeiro temos uma nova a do hotel, que é a Telma (personagem da Vera Moura), que vai mostrar que a Catarina fica insegura nesse dia dela de trabalho. Através da personagem da Cléo Malulo, que é a camareira Orlanda, percebemos que a Catarina não tem vida social. O Francisco Frois [que dá vida a Luís] é outro personagem em que mostramos que afinal a Catarina teve uma vida [antes]... Foram camadas que fomos ando nessas horas de vida da Catarina, que através dos personagens que vão ando pela vida dela no filme, contamos um pouquinho de quem ela é, da história dela, da perda que teve.
Eu perdi um sobrinho, ele tinha seis anos quando o meu irmão perdeu o filho, e vi nele como foi difícil superar isso. Tenho um pouco de uma experiência próxima de mim sobre o que é perder um filho e tentei colocar isso. Claro, de uma maneira leve. Como disseste, um pouquinho de drama, mas uma comédia sem ser aquela comédia escancarada. É aquela comédia que tu entendes, identificas-te, pensas que já foste a um hotel e já aconteceu isto comigo, que conheces uma pessoa que é assim… Tem algum estilo de humor também, e é o género que gosto de fazer e assistir.
Quando a porta do elevador abriu, um hóspede bêbado começou a rir e a gritar 'ação'. Não atrapalhou nada, mas foi um susto
Ter decidido fazer o filme numa sequência contínua foi para conseguir transmitir mais diretamente o caos, também o cansaço da personagem…?
Exatamente. Sempre fui um fã da sequência porque acho que te aproxima muito da realidade, do que está a acontecer. Estás num corredor e podes entrar à direita ou à esquerda, se virares à direita, vais perder o que está à esquerda, mas não há problema, a vida é feita de escolhas. O plano sequência é isso. Tive de ar para o guionista para ele escrever em cima disso, sabendo que tem de respeitar a geografia do hotel.
Perante o facto de o hotel estar em funcionamento, o que traz mais um desafio a este tipo de filmagem, houve algum episódio caricato que aconteceu durante as gravações?
Houve alguns [risos]. Houve um no elevador em que o corte, o final do 'take', era justamente na hora em que a porta do elevador se ia abrir. Quando a porta do elevador abriu, um hóspede bêbado começou a rir e a gritar 'ação'. Eram três da manhã e ele estava meio alterado. Pensei que tinha estragado o plano inteiro, mas quando fui rever, ele apareceu na câmara logo depois do momento em que tínhamos o corte, por isso não atrapalhou nada. Mas foi um susto. E diversas vezes houve hóspedes a olharem para a câmara e tivemos de cortar o plano.
Grandes amigos e profissionais que fiz aqui ao longo deste tempo. E os atores também. É um privilégio trabalhar com tantos atores bons
Porquê a escolha de gravar em Portugal?
Moro cá, estou aqui há mais de oito anos. Tenho duas filhas aqui, a minha mulher também mora aqui... Não tem porquê não fazer aqui. Tenho a sorte de trabalhar em Portugal, há equipas muito boas, grandes amigos e profissionais que fiz aqui ao longo deste tempo. E os atores também. É um privilégio trabalhar com tantos atores bons.
Mesmo para o cinema, o grande desafio é a gente fazer com que o jovem largue o telemóvel para fazer outra coisa
Tem vários atores jovens neste elenco. Esta escolha deve-se a alguma razão em particular?
As pessoas que trabalham num hotel como o 'Hotel Amor', que tem os seus problemas de equipa. O 'Hotel Amor' tem pessoas inexperientes, por isso, achava interessante ter pessoas jovens a trabalhar para também acentuar esses conflitos e entender essa nova geração. Temos uma camareira, que é o papel da Margarida Corceiro, e ela não quer trabalhar, não quer limpar as casas de banho, ela quer ver as joias, os sapatos, os vestidos que os hóspedes trazem para o hotel…
A personagem da Júlia Palha na receção, ela não quer atender os clientes. Ela quer ficar a jogar Solitário, não está preocupada em ser uma boa funcionária. Hoje em dia os jovens são mais 'complicadinhos'. A rede social tem muita coisa boa, mas também tem muita perdição. Mesmo para o cinema, o grande desafio é a gente fazer com que o jovem largue o telemóvel para fazer outra coisa - não só para ir ao cinema, mas também para estudar, trabalhar…
Ainda falta apoiar o cinema português em geral - não só o 'Hotel Amor', mas todo o filme português merece e deve ter mais público
Falei com a Jessica Athayde sobre o filme e ela referiu que espera que este elenco mais jovem traga mais pessoas ao cinema. Também espera que isso possa acontecer, que tenha alguma influência?
Acho que sim. É um elenco muito conhecido em Portugal - a Jessica Athayde, a Júlia Palha, o Francisco Froes, Margarida Corceiro, Lucas Dutra, Igor Regalla… São nomes de interesse total. Claro que para o jovem acaba por ter um apelo maior por causa da Margarida, da Júlia e da Vera Moura, mas acho que é um filme que vai despertar a curiosidade de todos.
Espero mesmo que todos vão ver o filme porque temos de apoiar o nosso cinema. Imensos portugueses foram ver o 'Ainda Estou Aqui', mas ainda falta apoiar o cinema português em geral - não só o 'Hotel Amor', mas todo o filme português merece e deve ter mais público.
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