Foram várias as figuras políticas que já se manifestaram face às agressões levadas a cabo por um grupo de extrema-direita contra um dos atores da companhia de teatro A Barraca, em Lisboa, na noite de terça-feira, tendo repudiado o que consideraram tratar-se de um “atentado contra a liberdade de expressão”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, salientou, esta quarta-feira, que "vivemos em Democracia e não queremos voltar a viver em ditadura", ao mesmo tempo que recordou que “em Democracia há e tem de haver liberdade de pensar e exprimir o pensamento, de forma plural e sem censuras”.
"O Presidente da República falou telefonicamente com Maria do Céu Guerra, a quem transmitiu a sua solidariedade, extensiva a toda a Companhia e seus atores", lê-se numa nota divulgada na página da Presidência da República.
A ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Margarida Balseiro Lopes, também repudiou a agressão Adérito Lopes, que classificou como um "atentado contra a liberdade de expressão, contra o direito à criação, contra os valores democráticos".
"A Cultura é um lugar de liberdade, nunca de medo. Repudio a agressão cobarde de que foram alvo os atores da companhia A Barraca. Este ataque é um atentado contra a liberdade de expressão, contra o direito à criação, contra os valores democráticos que nos definem enquanto país. A Cultura não se intimida. Não recua. E não aceita ódio travestido de discurso político", começou por escrever a ministra.
Margarida Balseiro Lopes reforçou ainda que "temos de garantir que artistas, técnicos e público podem participar plenamente na vida cultural, com segurança, respeito e dignidade", tendo dirigido ao ator agredido e a toda a equipa da companhia a sua solidariedade, em particular à diretora artística Maria do Céu Guerra, "cujo papel na cultura portuguesa é inestimável".
Por seu turno, o Partido Comunista Português (P) e o Bloco de Esquerda (BE) também condenaram o ataque, mas deixaram críticas ao Governo.
"Solidariedade total com Adérito Lopes, ator do teatro A Barraca agredido por neonazis. É urgente acabar com a impunidade destas associações criminosas (as tais que o Governo apagou do Relatório de Segurança Interna)", escreveu o ex-deputado António Filipe, numa publicação divulgada na rede social X (Twitter).
A coordenadora e deputada única do BE, Mariana Mortágua, assinalou que “os neofascistas atacam os livros, o teatro e quem faz a cultura”, uma vez que “acham que podem”.
"O Governo do PSD retirou do relatório de segurança interna a ameaça da extrema-direita. É o maior risco à nossa democracia. Solidariedade com o teatro d’A Barraca. Vamos à luta", escreveu, na mesma rede social.
Entretanto, Mortágua pediu ao presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, para que a próxima conferência de líderes agende um debate sobre o Relatório Anual de Segurança Interna 2024 com a presença do Governo.
Também a socialista Isabel Moreira comentou a situação nas redes sociais, marcando a conta oficial do primeiro-ministro, a quem questionou: "Luís Montenegro, quais as prioridades do Governo em matéria de política de segurança e de educação? Anunciar mega operações contra imigrantes e desistir da educação para a cidadania como disciplina obrigatória? E acordar?"
O porta-voz do Livre, Rui Tavares, recorreu à mesma rede social para apontar que as agressões são "o resultado de não haver clareza na rejeição do discurso de ódio".
"A agressão de que foi alvo o ator Adérito Lopes merece a mais veemente condenação, e uma investigação que castigue os responsáveis. É inaceitável que uma peça seja cancelada por causa de um grupo neofascista. É o resultado de não haver clareza na rejeição do discurso de ódio", escreveu.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, assumiu ter-se aliado aos atores da companhia de teatro A Barraca, além de ter apontado que “a violência é inaceitável”.
“Juntei-me, em solidariedade, aos atores do teatro A Barraca após a agressão a um dos membros do elenco. A violência é inaceitável”, escreveu o responsável, na rede social X (Twitter).
Carlos Moedas reforçou ainda “o pedido já feito ao Ministério da istração Interna”, para que sejam mobilizados “mais polícias na cidade” e seja feita uma “revisão das zonas prioritárias para videoproteção”.
Já o candidato presidencial Luís Marques Mendes considerou que “não pode haver qualquer tolerância”, apelando à “ação dos tribunais a sancionar quem tem um comportamento desta violência”.
"Absolutamente inissível, intolerável, inaceitável. Toda a violência tem de ser combatida. Não pode haver qualquer tolerância”, disse, acreditando que se impunha, além de “um discurso firme”, que “haja também ação dos tribunais a sancionar quem tem um comportamento desta violência”.
Também a Casa do Artista repudiou a violência cometida e lembrou que numa democracia "não há lugar para o ódio, a intimidação ou a agressão". Reafirmou ainda a sua "firme defesa dos valores da democracia, do respeito e da dignidade humana bem como o [seu] compromisso com a dignidade e a segurança de todos os artistas".
Na mesma linha, o Teatro Nacional D. Maria II condenou "a violenta agressão" contra A Barraca, "solidarizando-se com toda a equipa" da companhia "e em particular com o ator Adérito Lopes".
O Teatro D. Maria II, "enquanto instituição artística, e perante o recrudescimento de ameaças à liberdade de expressão, [...] condena todas as formas de violência e tentativas de condicionamento dos direitos culturais de todas as pessoas e continuará a trabalhar comprometidamente na defesa da liberdade de criação e participação cultural como valor fundamental de uma sociedade democrática", lê-se na página oficial do teatro nacional.
A ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve também reagiu, expressando "solidariedade para com A Barraca Teatro, em particular com o ator Adérito Lopes, brutalmente agredido num ato cobarde de violência de cariz neonazi".
"É urgente travar a propagação do ódio e pôr fim às narrativas extremistas que ameaçam a liberdade, a arte e a dignidade humana", apelou.
De igual modo, a Federação Portuguesa de Teatro condenou "o ato de violência de que foram alvo os atores de A Barraca Teatro", expressando solidariedade.
A escola profissional Instituto para o Desenvolvimento Social (IDS), a cujo corpo docente pertence o ator Adérito Lopes, coordenador do curso de Ator/Atriz, publicou na rede social Instagram que "repudia a vil agressão cometida sobre o seu professor".
"O nosso docente, vítima de um grupo de criminosos motivados pelo ódio e pela violência, partilha os valores universais que o levaram, há quase uma década, a juntar-se ao IDS, por saber que, nesta Casa, a defesa dos valores humanistas, como a educação, a liberdade, a paz, a justiça, o respeito pelo outro, é parte integrante da nossa missão como Escola."
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