"Vou festejar! É o primeiro o para estudar no estrangeiro!", disse à Lusa a jovem candidata ao mestrado em Estudos dos Media Emergentes na Universidade de Boston, depois de uma entrevista no consulado dos Estados Unidos em Xangai, onde, como ela, na mesma fila, quase 200 candidatos que aguardavam entrevistas receberam aprovação.
Se a cena parece ilustrar o compromisso assumido pelo presidente norte-americano na conversa telefónica com o homólogo chinês, Xi Jinping, na ada quinta-feira - e dar corpo à afirmação de Donald Trump de que os EUA "adoram receber estudantes chineses" -, os sinais de Washington sobre o tema são mais do que contraditórios, na perspetiva de diversas fontes chinesas em declarações à Lusa.
A agência Yi Si, sediada em Guangzhou, especializada no apoio de estudantes chineses que pretendem estudar no estrangeiro, dá conta da crescente preocupação com a rejeição de vistos entre os candidatos que recorrem aos seus serviços.
"Tenho dois estudantes da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau a quem foram negados os vistos para estudarem nos Estados Unidos já por três vezes", disse à Lusa o diretor da agência, Christ Feng, observando que o consulado dos EUA "não forneceu quaisquer razões" para as rejeições.
"Durante a anterior presidência de Trump, eram os estudantes de informática os que enfrentavam as taxas de rejeição mais elevadas, mas agora os candidatos de todas as especialidades correm o risco de ser recusados", acrescentou Feng.
Xiangning Wu, uma professora associada do Departamento de Governo e Políticas Públicas da Universidade de Macau, disse à Lusa que, nos últimos anos, o número de alunos seus que estudam nos Estados Unidos "tem vindo a diminuir", devido ao "aumento das propinas" e a "razões de segurança".
Wu referiu ainda que as recusas de visto têm visado maioritariamente os estudantes de ciências e engenharia, o que tem feito com que estes alunos acabem por fazer as especializações em Hong Kong e Singapura.
As descrições parecem encontrar ressonância no que o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, anunciou em comunicado na véspera do telefonema entre Trump e Xi na semana ada.
Segundo o comunicado do Departamento de Estado, os Estados Unidos vão começar a "revogar agressivamente" os vistos concedidos aos estudantes chineses, e a medida terá como foco principal os estudantes com ligações ao Partido Comunista Chinês (PCC) e os que se encontrem nos Estados Unidos a estudar em áreas sensíveis.
"Sob a liderança do Presidente Trump, o Departamento de Estado trabalhará com o Departamento de Segurança Interna para revogar agressivamente os vistos concedidos a estudantes chineses, incluindo aqueles com ligações ao Partido Comunista Chinês ou estudando em áreas críticas", informou Rubio.
"Também vamos rever os critérios de concessão de vistos para aumentar o escrutínio de todos os futuros pedidos de visto da República Popular da China e de Hong Kong", acrescentou o secretário de Estado norte-americano.
Esta determinação foi escutada com a devida atenção na China. A Direção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) em Macau disse à Lusa que está a preparar-se para "assistir" cerca de 200 estudantes da região istrativa especial chinesa a estudar nos Estados Unidos, assim como outros que aí pretendam prosseguir os estudos.
"A DSEDJ comunicou com instituições terceiras em Macau e solicitou-lhes que estejam atentas aos últimos desenvolvimentos e prestem a necessária facilitação e assistência aos estudantes que se encontram nos Estados Unidos, ou que pretendem estudar nos Estados Unidos, com o objetivo de se transferirem para outros países", indicou a instituição em comunicado enviado à Lusa.
No ano letivo de 2022/2023, o número total de estudantes chineses nos Estados Unidos era de 289.526, representando aproximadamente 27,4 por cento do número total de estudantes internacionais dos EUA, e encabeçando a lista pelo 14º ano consecutivo, de acordo com o relatório Portas Abertas, financiado pelo Departamento de Estado norte-americano.
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