"O país não se pode dizer que esteja muito polarizado. Os portugueses polarizados estavam, porventura, quando houve a sucessão de regimes, monarquia e república, quando houve o problema de ditadura e democracia", declarou o chefe de Estado à comunicação social, em Lagos.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, nesses períodos históricos, sim, houve "polarizações totais", mas o contexto atual não é extremado nem coloca em causa a democracia.
"Agora, dentro da democracia, haver vários pontos de vista, sem que nenhum deles coloque em causa a liberdade e a democracia, temos de itir que é muito boa notícia quando olhamos para o mundo e há mais ditaduras no mundo do que democracias", considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa falava à comunicação social enquanto caminhava a pé, na Avenida dos Descobrimentos, em Lagos, no distrito de Faro, no fim da cerimónia militar comemorativa Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Interrogado se o incomodava que um candidato presidencial, o anterior chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, tivesse tido agenda enquanto decorria esta cerimónia do 10 de Junho, o chefe de Estado respondeu que "os candidatos têm de fazer pela vida".
"Então no Dia de Portugal era estranho que não houvesse ou candidatos que viessem à cerimónia do Dia de Portugal ou candidatos que fossem a outra cerimónia, não podendo vir cá", acrescentou, fazendo alusão à presença de outro candidato presidencial, o antigo presidente do PSD Luís Marques Mendes, em Lagos.
Quanto ao seu processo de despedida do cargo, quando lhe perguntaram se já está com saudades, retorquiu: "Não, não, pelo contrário, eu acho que as saídas devem-se fazer assim suavemente, não abruptamente, mas suavemente. Preparam-se com tempo e sai-se".
Marcelo Rebelo de Sousa prometeu deixar o protagonismo para os candidatos às próximas eleições, "quando começar a campanha autárquica e sobretudo a campanha presidencial".
Questionado sobre o ado colonial de Portugal, que a escritora e conselheira de Estado Lídia Jorge abordou no seu discurso do 10 de Junho, e se falta assumir culpas, o presidente desdramatizou o assunto e até fez uma referência à recente vitória da seleção portuguesa de futebol, no domingo à noite, contra a Espanha.
"Nós, portugueses, ao mesmo tempo que reconhecemos os méritos, também reconhecemos que há coisas que correram mal na nossa vida interna, nas nossas relações externas. É assim, não há ninguém sem defeitos, é humano ter defeitos. Agora, o que é importante é ter qualidades em momentos fundamentais, e ainda no outro dia se viu, há dois dias, que em momentos cruciais nós temos as qualidades suficientes para ganhar", referiu.
Na sua opinião, Lídia Jorge, que presidiu à comissão organizadora das comemorações do 10 de Junho, "sobretudo quis foi fazer uma análise histórica das várias perspetivas da História de Portugal".
Ainda sobre o ado colonial, o chefe de Estado comentou: "Nós naturalmente gostamos muito, e é justo, de olhar para aquilo que fizemos de bem -- quando vemos o português com quinta língua falada no mundo e primeira no hemisfério sul, quando vemos a cultura, os países de língua oficial portuguesa, quando vemos a influência que temos em termos internacionais".
Nestas declarações enquanto caminhava, tendo ao seu lado o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, o Presidente da República retomou alguns pontos do seu discurso e, a propósito do papel dos militares, reiterou a ideia de que "não há pátria forte sem Forças Armadas fortes".
"Não era preciso haver guerra para se descobrir isso, mas agora com guerra percebe-se que é muito importante ter", sustentou, elogiando em seguida as "novas capacidades" exibidas neste 10 de Junho.
[Notícia atualizada às 15h23]
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